Sensação de desafiar os limites do próprio corpo, desejo de aventurar-se e divertimento em oferecer sofrimento aos outros. Esses são alguns fatores psicológicos envolvidos no ‘desafio da baleia azul’ apontados pelo presidente da Confederação Nacional dos Psicólogos (CFP), Rogério Giannini, durante a audiência pública que discutiu o tema na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (9).
A audiência pública foi requisitada pelo deputado federal Roberto Alves (PRB-SP), após o aumento no registro de suicídios e automutilações envolvendo crianças e adolescentes, em todo Brasil, por conta do jogo macabro, que induz os jovens ao suicídio.
Giannini explicou que o desafio da baleia azul, assim como outros jogos que viralizaram na internet, contaminam os jovens com falsas sensações de poder sobre si próprios e sobre outras pessoas. Ele fez um alerta sobre a vulnerabilidade e ausência de valores sociais e familiares. “A sociedade não está sendo atacada pelo desafio da baleia azul. Está sendo atacada pela desesperança, pela ausência de identidade e por diversas questões sociais”, afirmou.
A porta-voz do Centro de Valorização da Vida (CVV), Leila Herédia, destacou que são registrados no Brasil 32 suicídios por dia e que, conforme pesquisa da Universidade de Campinas (Unicamp), 17% dos brasileiros já pensaram seriamente em tirar a própria vida. Entre as mulheres com idade entre 15 e 29 anos, o suicídio está entre as principais causas de morte, junto com acidente de trânsito. “A depressão, causa primária dos suicídios, tem que ser tratado como problema de saúde pública”, afirmou.
Caso de Polícia
O advogado especialista em direito digital, Renato Ópice, frisou que o desafio da baleia azul surgiu de uma notícia falsa ou fake news. No entanto, os veículos de comunicação sensacionalistas da mídia russa e inglesa impulsionaram notícias de suicídios ligados a supostos grupos macabros. O desafio da baleia azul, segundo ele, é mais um fake news que se tornou tragédia entre os jovens. “A sociedade sofre com notícias falsas a todo momento. Governos, personalidades públicas, políticos, todos sofrem com isso. É importante que a legislação atue onde a sociedade não tem capacidade gerenciar”, argumentou.
O presidente da ONG Safernet, Thiago Tavares, explicou que não foi encontrado no Brasil nenhum grupo que comande ou controle o ‘desafio da baleia azul’, de onde pudessem sair as missões macabras, bem como as ameaças feitas aos participantes, caso quisessem sair do jogo. “É uma mentira, mais uma notícia falsa, que se tornou verdadeira”, afirmou.
De acordo com ele, a Safernet descobriu que o desafio da baleia azul vem sendo levado à frente por jovens em situação de vulnerabilidade psicológica. “Precisamos pôr um freio, mas isso envolve compromisso e responsabilidade em não disseminar esse desafio à medida em que falamos dele. A mídia tem um papel fundamental”, disse.
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